Coluna Jornal O Tempo | Enquanto os homens exercem seus podres poderes

Quem perde é o povo de Belo Horizonte.


O povo de Belo Horizonte tem assistido atônito ao verdadeiro show de horrores que se transformaram as disputas de poder envolvendo a Câmara Municipal e a prefeitura. Elas resultaram na abertura de um pedido de cassação do mandato do atual presidente do Legislativo, Gabriel Azevedo, pedido este feito pela ex-presidente da Câmara e atual deputada federal, Nely Aquino, aliada de primeira hora de Gabriel até alguns meses atrás.

Na primeira sessão que discutiria a abertura do processo de cassação do presidente da Câmara, houve de tudo: deboche, parabéns pra você, fast-food sendo distribuído pela mesa diretora, e o próprio presidente da sessão assumiu a condução da obstrução dos trabalhos. A que nível chegamos?!

Mas o que isso tem a ver com você, morador de Belo Horizonte? Na verdade, tudo. Afinal, enquanto se engalfinham pelo poder, antecipando uma possível disputa à prefeitura em 2024, quem perde é o povo! Vide o que aconteceu com a questão do transporte: a população passou meses pagando uma tarifa de seis reais, em consequência do cabo de guerra entre os poderes!

Sempre tive uma relação de cordialidade e respeito pelo Gabriel, embora eu mesma tenha sido alvo das táticas de intimidação dele. Mas desde que assumiu a presidência da Câmara, os relatos são só os piores, afinal, agora ele tem poder e exerce para garantir seus interesses. Intimidação e humilhação de vereadores que discordam de sua posição; gravação de conversas privadas; tentativa de intervenção no trabalho da corregedoria da Câmara Municipal, intervenção em processo de CPI são algumas das graves denúncias contra ele.

Gabriel, que prometia uma nova política, entregou-se ao narcisismo do ego e ao autoritarismo extremo. Atualmente, permanece no cargo depois de judicializar a questão, mas de fato não possui condições de seguir na Presidência da CMBH. No entanto, penso que a cassação de seu mandato é uma medida extrema. A cassação para resolver conflitos políticos gera incertezas jurídicas e cria regramento de exceção, que pode se voltar contra qualquer um.

Hoje um dos atores que se movimenta para cassar Gabriel é justamente o grupo político “bolsozemista” do Marcelo Aro, secretário da Casa Civil do governo Zema, que indicou a secretaria de Governo da Prefeitura de BH, e no passado foi aliado de Gabriel na Câmara. Quem se lembra que Marcelo Aro, ora aliado de Kalil, quando rompe com ele, operou para derrubar o Projeto de Lei que previa recursos para as obras da Vilarinho e da Izidora!?
Essas mesmas obras estão, neste momento, comprometidas em função de mais essa instabilidade entre a Câmara e a Prefeitura de BH. Não é de hoje que essas disputas mesquinhas atrasam as melhorias necessárias na cidade.

Belo Horizonte não aguenta mais! Enquanto se digladiam pelo poder, a cidade segue amargando um péssimo sistema de transporte, operado por uma verdadeira máfia; vemos a população em situação de rua crescer vertiginosamente; e a sensação é de completo abandono. BH é muito maior do que essas disputas de interesse político entre poucos homens!
Peço licença ao poeta para parafrasear com a canção que dá título a este artigo para dizer que além dos “hermetismos pascoais”, só mesmo o povo organizado e consciente nos salvará “dessas trevas, e nada mais”. E esse tempo há de vir mais cedo que tarde.

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